
"Cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.(Clarice Lispector)
maio 21, 2009
Vulto

maio 20, 2009
Sombras e Poesias

Sombras e Poesias
Vento forte que agora sopra,
impiedoso és com as folhas secas.
Amareladas e frágeis se equilibram
num fio de vida que ainda resta,
aresta de um tempo que se fora,
onde o ar clorofilado reinava.
Brisa impetuosa que abala,
sua melodia remete
aos cantos fúnebres de saudade.
Vejo as folhas secas pelo chão,
suas hastes estalam sob os pés,
restos da vida macerado, moído.
Folha que fora, hoje ruído,
do seu triturar, é só o que és.
Aragem que desliza por entre as copas,
a leveza das folhas me lembram
os sonhos alegres que tive.
Mesmo sendo noite, os sonhos luziam
então veio o sol, luz que as sombras dissipam ,
que apaga o brilho das fantasias.
Dos sonhos sonhados restaram as sombras e as poesias.
aβsyntoVocέ by K4AKIS'Production
Abélard and Héloïse

Carta de Abelardo a Heloísa...
"Fujo para longe de ti...
Evitando-te como a um inimigo,
mas incessantemente
te procuro em meu pensamento.
Trago tua imagem em minha memória
e assim me traio e contradigo,
eu te odeio, eu te amo."
Carta de Heloísa a Abelardo...
"É certo que quanto maior é a
causa da dor, maior se faz
a necessidade de para ela
encontrar consolo, e este
ninguém pode me dar, além de ti.
Tu és a causa de minha pena,
e só tu podes me proporcionar conforto.
Só tu tens o poder de me entristecer,
de me fazer feliz ou trazer consolo."
maio 19, 2009
Noite em mim...

§ "A luz se foi e agora nada mais resta a não ser esperar por
um novo sol, um novo dia, nascido do mistério do tempo
e do amor do homem pela luz".
Gore Vidal- "Juliano" (1964)
O homem ao meu lado

como criança indefesa repousa,
ouço o suave ressonar.
É um homem a dormir ou um gato a ronronar?
Ah, são mágicos os mistérios do coração.
O mais comum e frugal momento, no enlevo da paixão,
fica envolto de encantamento e dulçor,
digno das mais belas elegia e dos poemas de amor
maio 18, 2009
AMOR DE TARDE

É uma pena você não estar comigo
quando olho o relógio e já são cinco
e termino a planilha e penso dez minutos
e estico as pernas como todas as tardes
e faço assim com os ombros para relaxar as costas
e estalo os dedos e arranco mentiras.
É uma pena você não estar comigo
quando olho o relógio e já são cinco
e eu sou uma manivela que calcula juros
ou duas mãos que pulam sobre quarenta teclas
ou um ouvido que escuta como ladra o telefone
ou um tipo que faz números e lhes arranca verdades.
É uma pena você não estar comigo
quando olho o relógio e já são seis
Você podia chegar de repente
e dizer "e aí ?" E ficaríamos
eu com a mancha vermelha dos seus lábios
você com o risco azul do meu carbono.
Escrevo o que não sou

‘Não .
Não escrevo o que sou. Escrevo o que não sou.
Sou pedra. Escrevo pássaro.
Sou tristeza. Escrevo alegria.
A poesia é sempre o reverso das coisas.
Não se trata de mentira.
É que nós somos corpos dilacerados
"Oh! Pedaço arrancado de mim!"
O corpo é o lugar onde moram as coisas amadas
que nos foram tomadas,
presença de ausências, daí a saudade,
que é quando o corpo não está onde está ...’
maio 13, 2009
Minhas palavras, outras vozes

Busco ávida por poemas não lidos,
neles, resposta minhas
em dizeres alheios.
A palavra mal absorvida,
A emoção mal resolvida.
Acordo Clarice,
durmo Cecília,
eu,revisited em Pessoa,
em sua, minha angústia.
Tento buscar em outras
bocas, outras vozes,
velhas palavras,
que se esconderam,
quando deviam se expor.
Emoção que se desnudaram...
quando precisavam se recolher.
Vozes que explodiram...
quando o melhor era calar.
Leio Neruda, sonetos
que exaltam amor.
De Quintana,busco a sabedoria
leve e livre, de Drummond
a doçura,que me alcança,
me amansa, como um bolero de Ravel,
e preenche o oco do carinho seu.
maio 11, 2009
Ponto de Ebulição

Ponto de ebulição!
A temperatura sobe,
o líquido ferve,
derrama, escoa, evapora...
Caiu, não se junta mais.
Água a se espalhar,
fora da tina, da bacia onde,
em fogo brando fervia.
Líquido, palavra perdida
por se passar do ponto
ou quem sabe, chegar
no ponto certo.
Ponto de ebulição.
As emoções eclodem,
no peito aprisionadas,
a água escorre da tina
afogada até o talo.
Tudo demais, acaba por explodir,
enxurrada de palavras
no ar, água que escoa no chão.
Pouco se guarda por tanto tempo.
Muito se reprime por algum tempo.
Tudo se regurgita no tempo certo.
Nem longe, sem sombra de lembrança,
nem perto demais, pura destemperança.
No tempo certeiro, desemboca aguaceiro
de pura emoção expelida sem receio
da água que evade da tina,
mágoa de coração em desatino.
Palavras revestidas de fel,
águas amargas do adeus.
Após tanto líquido derramado, palavras despejadas
pouco resta, resíduos,
sobras da emoção, de tudo... Somente manchas do sentir,
do líquido derramado, espalhado pelo chão.
Ponto de Ebulição.