"Partout je vais je trouve un poèt a été là avant moi."(S.Freud)

maio 09, 2009

Um canto que encanta ou...

Um encanto que canta


Lindo de ver e de se ouvir... Nina Simone!


maio 08, 2009

Círculo Eterno

Círculo Eterno

Rumino s minhas mazelas,

Busco alforria da dor.

Sinto-me tola, atolada,

presa em armadilhas

que eu mesma criei.

Qual ave sob alçapão,

se debate aflito em mim

um coração, agitado no peito,

refém da própria emoção.

Na busca do porto seguro,

optei pelo corpo seguro.

Preciso aportar, sobreviver

à angustia de querer.

a busca insana, infundada. 

Perdi minhas coordenadas

vagando em círculos eternos.

Delírio e verdade se fundiram

e me confundiram. Voei e me perdi.

Vivi náufrago de meu próprio sentir.

De amarras solta a vida conduz

meu destino, o de alguém comum,

amores possíveis, dores previsíveis.

Um sábado para sair, um domingo 

para dormir e poucas desgraças,

depois da utopia, isto me basta.

Creative Commons License aβsynto Vocέ by K4AKIS'Production

maio 06, 2009

ADEUS


ADEUS

 

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,

e o que nos ficou não chega

para afastar o frio de quatro paredes.

Gastámos tudo menos o silêncio.

Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,

gastámos as mão à força de as apertarmos,

gastámos o relógio e as pedras das esquinas

em esperas inúteis.

 

Meto as mãos nas algibeiras

e não encontro nada.

Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!

Era como se todas as coisas fossem minhas:

quanto mais te dava mais tinha para te dar.

 

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!

e eu acreditava.

Acreditava,

porque ao teu lado

todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,

no tempo em que o teu corpo era um aquário,

no tempo em que os meus olhos

eram peixes verdes.

Hoje são apenas os meus olhos.

É pouco, mas é verdade,

uns olhos como todos os outros.

 

Já gastámos as palavras.

Quando agora digo: meu amor...,

já se não passa absolutamente nada.

E no entanto, antes das palavras gastas,

tenho a certeza

de que todas as coisas estremeciam

só de murmurar o teu nome

no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.

Dentro de ti

não há nada que me peça água.

O passado é inútil como um trapo.

E já te disse: as palavras estão gastas.

 

Adeus.

Eugénio de Andrade 

maio 05, 2009

Meu ódio tem nome

Meu odio tem nome

Meu ódio tem nome,

tem contornos e face.

Rancor disforme

tomou forma de homem.

Vazio, da essência humana

só casca restara.

Minha ira tem rumo,

tem norte, destino,

só não tem rima.

Porque não se encontra,

nem verbo ou palavra,

por mais ferina

que rime com minha ira.

Ira que vibra no peito

onde a paixão outrora aportou.

 Negro abrigo do rancor,

onde amargura sobeja, escorre,

corrói o parco resíduo do  Amor.

maio 04, 2009

Where true Love burns...

Where true Love burns

Desire is Love's pure flame

It is the reflex of our earthly frame,

That takes its meaning from the nobler part,

And but translates the language of the heart.

Samuel Taylor Coleridge

Céu da Boca

O Céu    da   boca

O véu, o veludo, o pêlo

que cobre, recobre a pele

enrosca, envolve, eriça

ao beijo, ao toque, ao choque

que a língua molhada provoca

ao deslizar pela nuca,

coberta de vastos pêlos

que cobre , recobre a pele,

sussurrando aos ouvidos,

sugando o lóbulo úmido,

até aportar no pescoço,

jorrando intenso arrepio.

 

Os dedos que invadem ligeiros

os vãos que se formam

entre botões que fingem fechar.

Ocultando os mamilos alertas,

despertos ao choque da língua

que desliza solta no peito,

que abriga os mamilos eretos,

que língua louca roça e dentes afoitos

mordiscam, suaves... E a boca gulosa

suga afoita, eriçando o pêlo e pele,

entesando membros e mente.

 

O membro que pulsa desperto,

buscando fugir das traves e fechos

que tentam inútil reter o membro teso.

A língua vasculha os montes e fendas.

desce umbigo e segue explorando,

entre pêlos e pele, o membro que

vibra. Brinquedo de intenso prazer.

Medindo da base à ponta, com a ponta

da língua úmida, que molha, suga

e enxuga,entesado o já eriçado

membro alojado no vão 

que fica entre lábios e dentes.

Corpo na terra, cabeça tocando o céu.

O corpo estremece ao toque da língua

enroscada na cabeça úmida,

abrigada sob o Céu da boca,

se esvaindo em gozo único.