"Partout je vais je trouve un poèt a été là avant moi."(S.Freud)

novembro 01, 2009

Não me Peçam Razões...

Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.

José Saramago, in "Os Poemas Possíveis"

A um ausente

Tenho razão de sentir saudade,

tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.


Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?


Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.


Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.


Carlos Drummond de Andrade


outubro 25, 2009

Mulher... Nem Freud explica!


“Isso é tudo o que tinha a dizer-lhe a respeito da feminilidade.
Certamente está incompleto e fragmentário, e nem sempre parece agradável. (…)
Se desejarem saber mais a respeito da feminilidade,
indaguem da própria experiência de vida dos senhores,
ou consultem os poetas, ou aguardem até que a ciência possa dar-lhes
informações mais profundas e mais coerentes”
Freud-1933 (p. 165)

outubro 17, 2009

Amo porque quero. Não posso...

E por que te amo?
Te amo porque te amando
também me amo.
E me amando sou forte
e sendo forte suporto...
A falta,
a ausência,
a distância,
a incoerência
de se amar de longe
de se desejar perto
o que enxerga
à distância de um suspiro,
ao suspiro de um toque
ao tocar dos olhos,
o amor...
Que se perde no vácuo
que evade no espaço,
que reina absoluto na contradição
o meu querer amar
e o seu poder...

by K4akis


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agosto 30, 2009

Blind Date


Por caminhos tortuosos,
entrega-se à escuridão,
de lugares obscuros,
grutas do coração, recantos tenebrosos.

Guiados só pelo instinto onde se pode chegar?
Acaso é certo o porto, um corpo onde ancorar?

No escuro as densas trevas turvam a visão,

os desejos são enganosos,
tramam contra a razão.

Instintos tão viscerais,
são perigosos
,
artimanhas da paixão,
inimigos ardilosos... Não!
Deixa a razão acordar,
espera alvorecer.

Foge da escuridão!

by k4akis



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agosto 13, 2009

Lembranças nostálgicas

Dei pra sentir saudade, tentar engarrafar o tempo na vida,
tal qual engarrafo na memória, nos vídeos e resgato,
quando a saudade aperta e a nostalgia me dói...

Nuvens em mim...


Debaixo da nuvem de poeira
vasculho tentando encontrar,
algo que enfim valha:
o resgate,
a restauração,
a manutenção,
a imersão
na nuvem enfim.

Debaixo da nuvem de poeira
vasculho tentando encobrir,
moral que insufla,
beijo asséptico,
face simétrica
de perfil assimétrico
que não quero refletido
no aço do espelho
manchado de janeiros.

Debaixo da nuvem de poeira
vasculho tentando aflorar
dos sonhos, o esqueleto,
da videira, o jirau
da poesia, o varal,
dos contos, as contas,
dos pontos, a linha
do norte, a trilha
do inicio, o fim
que cada partícula
de poeira
flutuante, flutuando
leva de mim.

k4akis

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agosto 09, 2009

Adoro Pau mole!

Adoro pau mole.

Assim mesmo.

Não bebo mate

não gosto de água de coco

não ando de bicicleta

não vi ET

e A-d-o-r-o pau mole.

.

Adoro pau mole

pelo que ele expõe de vulnerável e pelo que encerra de possibilidade.

Adoro pau mole

porque tocar um pressupõe a existência de uma intimidade e uma liberdade

que eu prezo e quero, sempre.

Porque ele é ícone do pós-sexo

(que é intrínseca e automaticamente

- ainda que talvez um pouco antecipadamente)

sempre um pré-sexo também.

Um pau mole é uma promessa de felicidade sussurrada baixinho ao pé do ouvido.

E dentro dele,

em toda a sua moleza sacudinte de massa de modelar,

que mora o pau duro e firme com que meu homem me come.

MARIA REZENDE

agosto 04, 2009

POÉTICA I

De manhã escureço

De dia tardo

De tarde anoiteço

De noite ardo.

A oeste a morte

Contra quem vivo

Do sul cativo

O este é meu norte.

Outros que contem

Passo por passo:

Eu morro ontem

Nasço a manhã ã

Ando onde há espaço:

- Meu tempo é quando.

(Vinicius de Morais)


agosto 01, 2009

Eros e Psiquê


Um presente para quem está passando por aqui..


Um poema belíssimo de Fernando Pessoa numa narração que vale desfrutar...

julho 12, 2009

Mais um dueto...

NOTURNO CORAÇÃO


Anoitece no meu coração de manhã cedo

quando vejo a cama vazia. Silêncio cortante

como a palavra final, o ultimato, o encerramento.

Nem sempre o fim leva ao final, fica um pouco

de muita coisa em cada mínimo fragmento

do pouco vivido. Amanhece no meu coração

quando a noite não é mais um silêncio pesado,

quando os sons e as luzes da rua invadem

o que meu coração deixou pra de manhã mais cedo.

Tanta noite, tanto dia... E a vida segue crepuscular

como o sol que se pôs em minhas mãos.
K4Akis & RCamargo

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junho 28, 2009

Noite alta


Quando a noite se põe alta
e não há estrelas ou luzes,
busco o clarão de teu sorriso
a guiar-me às cegas
pela terra envolta em trevas.
Sorriso fácil de um riso sonoro
cujo som se repete na memória.
Sigo os ecos do seu gargalhar,
mesmo sabendo que a rota
embora sonora, não se faz reta.
E me aventuro a cada curva,
onde o destino não importa
se o trilhar for contigo.
Mesmo à distância,
numa realidade turva
de um trilhar junto
que se faz irreal...



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junho 27, 2009

Baiser... Beijo!

Baiser

Quand ton col de couleur rose

Se donne à mon embrassement

Et ton oeil languit doucement

D'une paupière à demi close,

Mon âme se fond du désir

Dont elle est ardemment pleine

Et ne peut souffrir à grand'peine

La force d'un si grand plaisir.

Puis, quand s'approche de la tienne

Ma lèvre, et que si près je suis

Que la fleur recueillir je puis

De ton haleine ambroisienne,

Quand le soupir de ces odeurs

Où nos deux langues qui se jouent

Moitement folâtrent et nouent,

Eventent mes douces ardeurs,

Il me semble être assis à table

Avec les dieux, tant je suis heureux,

Et boire à longs traits savoureux

Leur doux breuvage délectable.

Si le bien qui au plus grand bien

Est plus prochain, prendre ou me laisse,

Pourquoi me permets-tu, maîtresse,

Qu'encore le plus grand soit mien?

As-tu peur que la jouissance

D'un si grand heur me fasse dieu?

Et que sans toi je vole au lieu

D'éternelle réjouissance?

Belle, n'aie peur de cela,

Partout où sera ta demeure,

Mon ciel, jusqu'à tant que je meure,

Et mon paradis sera là.

JOACHIM DU BELLAY (1542)

junho 18, 2009

Guardo teu sorriso


Guardo o teu sorriso nos meus olhos,

imagem tatuada na retina

com a meticulosidade dos ourives persas.

Teu sorriso, que aquece meus dias,

sol que a minha alma alua,

insanidade bendita que meu amor perpetua.


Guardo teus olhos no meu sorriso,

na esperança de perpetuá-lo,

mesmo sabendo que nada sei de eternidades

já que teu sorriso é o presente de meu presente.

(K4akis e Roger Camargo)

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Poema para Gato

Vem cá, meu gato, aqui no meu regaço;

Guarda essas garras devagar,

E nos teus belos olhos de ágata e aço

Deixa-me aos poucos mergulhar.

Quando meus dedos cobrem de carícias

Tua cabeça e dócil torso,

E minha mão se embriaga nas delícias

De afagar-te o elétrico dorso,

Em sonho a vejo. Seu olhar, profundo

Como o teu, amável felino,

Qual dardo dilacera e fere fundo,

E, dos pés a cabeça, um fino

Ar sutil, um perfume que envenena

Envolve-lhe a carne morena.

Charles Baudelaire

junho 14, 2009

Epigrama de La Fontaine

La jouissance et les désirs 

Aimons, foutons, ce sont des plaisirs

Qu’il ne faut pas que l’on sépare;

La jouissance et les désirs

Sont ce que l’âme a de plus rare.

D’un vit, d’un con et de deux cœurs

Naît un accord plein de douceurs

Que les dévots blâment sans cause.

Amaryllis, pensez-y bien :

Aimer sans foutre est peu de chose,

Foutre sans aimer, ce n’est rien.

Jean de La Fontaine

junho 13, 2009

Adentrando ao Céu...






No vasto do teu universo,
uno prosa e verso,
para encanto meu.
Neste recanto teu,
outrora corpo,
permita-me repousar
e criar meus poemas.

Meu corpo, outro universo,
nas marcas trago
caminho impresso
do refúgio teu.
Permito-lhe adentrar-me.
E entrelaçar sua arte
em minhas rimas.

Adentrando,
resoluto, em riste
penetras...Infinito,
o céu não mais
delimita.
Teu mundo agora habita
nos recônditos recantos meus.
Uno teu verso ao meu reverso,
ocupamos o mesmo espaço
neste vasto universo.
atados em nós e livres
do mundo, sem limites
nos entregamos a arte de amar.


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Espelhos ou janelas...


Teus Olhos

Teus olhos são a pátria do relâmpago e da lágrima,

silêncio que fala,

tempestades sem vento, mar sem ondas,

pássaros presos, douradas feras adormecidas,

topázios ímpios como a verdade,

outono numa clareira de bosque onde a luz canta no ombro

duma árvore e são pássaros todas as folhas,

praia que a manhã encontra constelada de olhos,

cesta de frutos de fogo,

mentira que alimenta,

espelhos deste mundo, portas do além,

pulsação tranqüila do mar ao meio-dia,

universo que estremece,

paisagem solitária.

Octavio Paz, in "Liberdade sob Palavra"
Tradução de Luis Pignatelli

junho 12, 2009

Beijo Eterno


Beijo Eterno

Diz tua boca: "Vem!"

"Inda mais!" Diz a minha, a soluçar...Exclama

Todo o meu corpo que o teu corpo chama:

"Morde também!"

Ai! Morde! Que doce é a dor

Que me entra as carnes, e as tortura!

Beija mais! Morde mais! Que eu morra de ventura,

Morro por teu amor!

 

Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo!

Beija-me assim!

O ouvido fecha ao rumor

Do mundo, e beija-me, querida!

Vive só para mim, só para a minha vida,

Só para o meu amor!

Olavo Bilac

junho 11, 2009

Noite úmida


Anoiteceu ...

Uma noite úmida,

Nós úmidos, unidos e a sós.

Eu molhada de ti.

Você encharcado de mim.

O quarto inebriado de nós.

Em cena cansaço e olor,

exaustão vem envolver

os corpos atados que pendem,

num sereno adormecer.


Amanheceu ...

Corpos agora sedentos

de água e beijos.

Resquício da noite,

as marcas no leito,

os beijos na mente

Os corpos se tocam,

tangem e vibram.

O corpo é fonte,

de água vertente,

que escorre em filete tímido,

em cachoeira deságua,

O dia em nós será úmido... 

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