"Partout je vais je trouve un poèt a été là avant moi."(S.Freud)

abril 24, 2009

Marcas rubras



Mote:
"DAS UTOPIAS
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!" (Mário Quintana)

Sob sol causticante ou impetuoso aguaceiro,sigo qual tal peregrina
levando o ônus da vida,um fardo pesado que arde,na carne cravado espinho.
Incrustado na sola do pé,arrancando sangue e suor nas passadas pelo caminho.
Pisando de lado, de leve, sofrendo as dores calada, aceito malfadada sina.
De que me adianta o murmúrio, se é de luto a vida que me destina.
Quanto mais sigo minha vereda, buscando sedenta um porto,
mais sinto o espinho arranhar, rompendo adentro do corpo.
Me perguntam por que não extirpo, não me livro de vez do estorvo,
não entendem eles que o espinho,já fizera ninho em meu corpo.
Por isso sigo a jornada,sangrando e pisando torto.

Alguns pensam que sou louca, que de mim vai longe a razão,
não entende toda essa gente, que pago o preço por amar
aquele que n'outras veredas, rasga o rumo n'outro estradar.
Como plantar consciência na terra insana do coração?
Se ele só se faz campo fértil, às sementes da paixão.
Me resta seguir penando, levando comigo ardor,
de olhar com olhos de cego e deixar passar o amor.
Quem sabe meu corpo alforria, abortando de vez o esp
inho,
me alivia do fardo dorido e me abre um novo caminho?
Não clamo jugo menor, apenas suspiro que venha, um breve alivio da dor.

"Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las..."
mesmo que não se sinta tão digno de recebê-las.
Aceito minha triste sina e embrenho mundo afora,
O meu martírio suportando, levando lembranças vividas.
carregando a minha dor, lambendo minhas feridas.
Quem não me conhece de perto, não percebe a ebulição,
alma atormentada, vivendo sob querências de insano coração.
A cada passo o sangue verte vivo da ferida do espinho,
sigo deixando marcas,rastros de sangue pelo caminho.


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Inércia ou Flores no vaso da sala



Mote:
Construíste tua paz tapando com cimento, como fazem os cupins,todas as saídas para a luz. Ficaste enroscado em tua segurança burguesa,
em tuas rotinas, nos ritos sufocantes de tua vida provinciana."
(Antoine de Saint-Exupery-"Terra dos Homens")

Flores no vaso sala

Flores imóveis no vaso da sala
engodo de vida com cheiro forte
perpetua o aroma de morte
que sua falsa beleza exala.
Enredo vazio de vida
que não vale palavra dita
nem batida repetida,
cadência do coração.
Nenhum poema merece
nem enlevo, injúria ou prece.

Suceder de mais ou menos
mero contar de calendário,
vida com itinerário.
Sem arroubos insanos,
sem maiores enganos.
Vida dentro do esperado,
com horário planejado,
sem espaço pro inusitado,
viver e morrer agendado.

Organizado suceder de dias,
tempo exato, fatura liquidada,
conta paga, parcela quitada.
Alocar de dores e alegrias
que aconteça como escrito,
nada que não seja previsto.
A vida tem que seguir nos trilhos,
contas,casa, família, filhos.
uma gripe, uma tosse, um escarro,
um baseado, um orgasmo, um cigarro.

"Construíste tua paz tapando com cimento,
como fazem os cupins, todas as saídas para a luz."
A rotina que te conduz,
teu esteio, teu norte,
te rouba também toda sorte
que ao imprevisto apraz.
E as flores inertes que ornam
o recinto de falsa alegria,
te serão derradeira companhia
quando te vier ao encontro a morte,
estação final dessa vil  romaria.

Vulto


Tenho endereço mas não tenho casa,
falta-me pouso...
Vivo na casa mas não a habito,
falta-me ninho...
Deito na cama mas não durmo,
falta-me sono...
Como do prato mas não me alimento,
falta-me gosto...
Bebo da água mas persiste a sede,
falta-me a fonte...
Escrevo um poema mas não o leio,
falta-me ouvinte...
Cometo injúrias e não confesso,
falta-me cúmplice...
Compro a bebida mas não bebo,
falta-me parceiro...
Faço o sexo mas não me sacio,
falta-me amor...
Tenho... mas me sinto só,
falta-me... Só me falta.
Encontro-me entre tantos
mas sou só desencontro.
Penso mas não existo,
falta-me ser...
Estou onde não sou,
onde sou, não estou.
Sou só vulto.

Do pó ao pó



Chora pelo que jaz morto,
entrega ao pó o que é pó.
Não adianta o pranto,
nem reza e vela pra tanto.
Morreu, acabou,
deixa enterrar.
Nada pode fazer voltar
o que a vida te arrancou.
Desfaze de tuas memórias,
limpa gavetas, rasga os rascunhos,
vestígios ocultos que mantém guardado,
lembranças frágeis de breve passado,
que não se sabe se houvera.
Despeça sem choro
das sombras que te assombram
daquilo que se fora.
Agarrar-se aos restos é vegetar,
agonizar qual moribundo,
na esperança que algo aconteça.
Talvez uma alvorada, que desponta antecipada.
Quiçá primavera, onde a paineira floresça.
Mas não há alvorada, nem muda-se a estação.
Não há sol no céu, nem da paina há o botão.
Só as lembranças que teimam
em assombrar tua visão,
cobrindo com manto de dor,
tua vida na solidão.
Liberta dessa canga pesada,
que aprisiona teu coração
e atropela a caminhada.
Desfaze do que jaz morto,
exorciza essa paixão,
entrega o corpo ao chão.
Morreu, acabou...
Deixa enterrar.

Loucuras de Mulher


Perdoa essa desvairada
que te faz espumar de raiva
e consegue te tirar do eixo.
Tratando-se de fêmea é normal
tamanha excentricidade,
afinal com tantos hormônios,
seria ingenuidade esperar normalidade.
Hormônios são nossos demônios.
Pobre dos machos que buscam
nos braços de uma mulher
descanso e tranquilidade.
Fêmeas lhes dão o regaço,
sexo, filhos e alguma satisfação.
Agora, por caridade,
não lamentes a insanidade
que a costuma acompanhar.
Aproveita a oportunidade,
usufrui o que vida te dá:
uma mulher a te endoidecer,
uma mãe pra teus filhos parir,
uma insana que te faz irar,
uma fêmea pra te amar.

Noite Infernal...Luxuria



As molas rangem no decorrer da noite...
Insones ouvem e se pertubam,
A noite vai se entregando,
os corpos se entregando,
as molas vão rangendo,
os sons vão ecoando,
os gemidos ressoando
os insones incomodados,
as molas
os sons,
os gemidos,
os sons,
as molas,
os gemidos,
os sons,
as molas,
os sons,
as molas,
os sons,
os gemidos,
os gemidos,
os gemidos...

De repente,
o silêncio.

Os insones, do quarto ao lado
se incomodam com o
silêncio.
Ali, naquele quarto, paz.
Molas descançam,
corpos adormecem.

A lua segue cúmplice e só,
espera a chegada do Sol.


Poema triste para você



Queria escrever um poema triste,
um poema onde a dor se lesse.
A dor sobeja, a palavra fenece.

Com a dor da falta tecer um soneto,
um lamento cheio de nostalgia.
O lamento forte sufoca a poesia.

Queria declamar as dores da Saudade,
imprimir nos versos sua intensidade.
A saudade intensa minha voz emudece.

Pisante de pés tortos. andante solitário,
sigo buscando fuga desse martírio.
A saudade, feito vento, sussura seu nome...

Fino trato


Cortês, polido de bom trato.
Metálico, tudo bate, reverbera, escorre.
Nas entranhas nada, no fim: vazio.

Terra e Arado



Eu sou terra, você arado,
terra seca com sua ausência,
que se encharca aos teus cuidados.
Sem você sou veio d'água,
diminuto e rasteiro,
que desce timidamente,
nas ocultas fendas sedentas,
de água, cuidado e semente.

Sem ti sou só aperreio,
seu arar me faz cachoeira,
água forte jorra do veio,
encharcando os meus montes,
descendo entremeios,
caudalosa corredeira.

Não fuja de minha vista,
não sai de minha terra,
singra a fonte no leito.
Não condenes à sequidão,
o campo viçoso e fértil,
que sonha com teu cuidado,
que geme por tua semente,
Eu sou terra, você arado.

Invólucro Vazio




Busco aquele que amei,
que se perdera envolto em brumas.
A sombra densa emudeceu seu riso,
roubou-lhe da face o sorriso fácil.
Busco aquele encanto
que nuca fora de príncipe
mas que tornava encantado.
e suportável as noites sem lua.

Procuro o calor do aconchego
traduzido em fortes abraços.
desenvolvidos por longos braços,
braços que enlaçavam o corpo
e aqueciam a alma fria.

O que procuro partira há muito,
perdeu-se num breu profundo,
talvez esquecera o caminho
ou a volta não lhe faz sentido.
Sombra maciça da vida que fora
olhos opacos, face sem brilho,
o homem que amei morrera,
aqui jás matéria, invólucro vazio.

Paciência que passa


A paciência se cansou,
abriu asas, alçou voo.
Desistiu de esperar sozinha
um dia que nunca chega
um tempo que nunca passa,
um dito que jaz fumaça.
Pelo não dito que se fora,
de um momento de outrora
que nunca foi nem será.

A paciência se foi só,
do mesmo jeito que chegara.
Não levou consigo lembrança,
nem sombra, nem cor, nem mácula.
Não quis ser espelho de Jó,
até ela tem seu limite,
seu ponto de exaustão,
limite de tolerância.

A paciência mudou e levou
tudo que lhe pertencia.
Não deixou nada na casa
onde montou estadia.
Foi e não volta mais,
saiu em busca de paz,
cansou de ser paciente,
não quer apostar em futuro,
lhe basta o mal do presente.

A paciência deixou um recado,
a quem lhe fez esperar,
paciência em demasia,
é puro golpe de sorte,
e sorte não é todo dia,
que paira por essas bandas.
Não deixe o amor esperando,
Amor em espera, vai passando.


Abandona teu corpo no meu



Solta teu corpo nesse abandono, 
no abraço dos meus braços vazios,
deita no espaço do meu colo,
se funde e se confunde em mim,
nesse desejo infinito de pertencer.

Singra meus rios no leito,
na fonte, vertente de mim.
Apaga os resíduos de ontem,
restos, descasos dos casos 
passados sem cor, só dor.

A noite vem cobrindo mansa,
entrando, sombreando a casa.
Se tu vieres e ocupar teu lugar
o lume de ti há de iluminar
os cantos sombrios que ficam
quando a noite teima em entrar
no quarto, no peito, na vida.

Vem  a tempo  de aquecer 
os cantos do meu recanto
que só vibra como teu toque.
Vem cobrir com teu corpo
o meu corpo que jaz num cio
e geme só neste pleno vazio.