"Partout je vais je trouve un poèt a été là avant moi."(S.Freud)

maio 01, 2009

A língua lambe


A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.

E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,

entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.

Encaixe perfeito


Somos muito diferentes...
Você ribalta,
eu coxia.
Você aurora,
eu ocaso.
Você persona,
eu pessoa.
Eu côncavo,
você convexo.
Você pura razão,
eu toda emoção.
Você o prazer em ouvir,
Eu o receio de falar.
Em nós a paixão,
diferentes efeitos
e encaixe perfeito.

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Caos tatuado



Envolto em teu caos, parado no cais,
não percebes que o tempo se esvai.
Preferes ficar ruminando mazelas,
perdendo as delícias que o hoje te traz.

Eu...
sou barco no mar, sou vela ao vento.
Do que esperei... De ti, só esboço fugaz.
Ao vento revolto alegre me rendo,
que dança, me toma, me arranca do cais.

A maresia anuncia, proximidade do mar.
A vela iça, a alma arde em brasa inflamada.
O vento que sopra, o pelo na pele eriçado,
seu canto seduz, desperta do sono profundo,
tempestade no corpo, desejo de mundo.

E tu...
Estático no ancoradouro,
escasseias o tempo de amar,
desperdiças teu tempo de viver,
Sobrevive à sombra do teu caos,
te aconchegas no manto da dor.

Reage presto enquanto é dia,
solta as amarras do estaleiro.
Quando enfim buscares o amor
este pode já haver partido,
levado pelo vento a outras paragens.
e te restar só caos, no peito incrustada tatuagem.

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Pouco importa

Hoje não mudei a estação,
fundo musical dos meus devaneios,
já não importa.
Não li o horóscopo,
não joguei I Ching.
Isso não me importa.
Não abri e.mails,
não relí os antigos,
pouco me importa.
Se há rastros de sua passagem,
se na caixa há uma mensagem,
isso não me importa.
Se pensei num e.mail,
se desisti por saber a resposta,
pouco importa.
Se os diálogos são lacônicos,
se os debates são monólogos,
já não me importa.
Hoje tudo isso não me importa.
Hoje nada disso me importa.
Do cigarro que acendeste
restaram cinzas e fumaça.
Nem cancêr, nem prazer,
só resíduo.
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Desejo de Caqui


Belo caqui, fruto ainda preso ao pé,
aguada de ti, fico a observar.
Com paciência espartana, espero a colheita chegar...
A vontade de te consumir,
o desejo a me possuir...
Por que não chega presto a colheita do caqui?!
Quando chegar o tempo, de recolhê-lo então,
tenro fruto almejado, minha fina iguaria,
não vou conter a volúpia de saciar num só dia,
a espera alucinante de toda uma estação.
Agora, nesse momento, para amenizar o desejo
sacio minha fome com o fruto da ocasião,
à espera do momento certo de consumar esta paixão,


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abril 30, 2009

Pecado é renunciar

A razão evadiu quando meus olhos
pousaram nos teus, negro abismo.
Renunciar a paixão, como posso?
Paixão é o ar que inunda o peito,
o sangue que preenche as veias,
fôlego da vida e fuga da morte.
Não se maldiz o que se ama, por sorte
encontrar uma paixão, inda que tardia
é garantir um sopro de sonho todo dia.
Fingis ignorar meu desejo,
acaso não seria também o teu?
Podes sentí-lo, mas vivê-lo...Deus!
Tantas são as amarras que impedem
o desatar sem o receio do ardor,
permitir-se, sem censura ou reservas.
Libertar os sentidos, se despir da razão,
bússola dos atos, atender ao desejo
insensato, mergulhar no fosso da paixão.
A pira do desejo arde, inflama  corpos e mente.
"Pecado é provocar desejo e depois renunciar..."
Inaceitável é ter uma paixão e não se entregar.

Amor tardio


Corre como se evitasse
o encontro consigo mesmo.
Foge como se pudesse
esquivar-se dos seus medos.
Evita parar,
evita pensar,
evita sonhar.
Trava batalhas tentando engavetar
num canto obscuro da mente,
pensamentos que teimam orbitar
no espaço de um suspiro,
no suspiro espaçado da dor.
Medos, desejos, anseios, utopias...
Plainam, tal revoadas de andorinhas
soltos e ordinários. Devaneios
que surgem quando o entardecer
vem sugando o clarão do dia.
Do riso débil fica resquício,
sonhos inacabados, valsando
entre os contratos vitalícios,
buscando no peito vazio
sobras da chama que teima
alimentar o fogo que 'inda arde,
esperança tardia de um amor
noturno, que insiste em vibrar,
apesar da noite alta.

O vazio que sobra



Paixão platónica... A falta foi fato.
Falta de teu rosto, do teu cheiro... Do abraço.
O som do silêncio ecoa pelo quarto,
na cama uma lacuna ocupou seu espaço.
É só vácuo... Eu sou vácuo.
De ti sobrou só vácuo.

A ausência tem nome, tem forma, tem vida
que vibra pensando no gemer sôfrego
quando a língua buscava sem pudor, no teu dorso,
teus recantos, fonte do teu, meu prazer.
Falta-me aos ouvidos o sussurro obsceno,
que jorrava no ar e escorria em meu corpo
feito contas, feito gotas, feito em gozo.
É só vácuo... Sou só vácuo.
De tudo sobrou o vácuo

Já não te encontro nos meus sonhos,
Não me irrigas de gozo, de ti, do teu sumo...
É só falta de teu corpo a estremecer em meus braços,
em loucuras impensáveis ou pecados inconfessáveis.
Não me sobraram odisseias nem aventuras realizáveis.
Nem tardes de espera ou noites de enlace.
É só vácuo... Eu sou vácuo.
De ti, de tudo sobrou o vácuo.

Meus sem...

















Sem avisar, chegaste...
Sem confiar, recebi.
Sem conhecer, acolhi.
Sem perceber, apeguei.
Sem querer, sonhei.
Sem poder, desejei.
Sem declarar, amei.
Sem consumar, penei.
Sem planejar, sofri.
Sem avisar, partiste...
Sem remédio, chorei.
Fim.


abril 29, 2009

Borboletas na sala


Uma borboleta plaina no vazio da sala
vejo seu bater de asa leve e
intenso como o pensamento
que livre te busca. Como o voejar
da borboleta que plaina absoluta
meu pensamento salta a procurar-te.

Pensamento em voo livre, disperso
num aflito rastrear por pouso
perdeu-se onde liberdade não há.
o tempo lhe surrupiou o repouso e
giras em torno de si mesmo,
rodopiando inútil a esmo.

Voo débil, sem bússola que aponte
o norte , legado à própria sorte,
ou sua falta. Buscas um horizonte
num bater e rebater de asas
neste vácuo entre o pensamento que nos ata,
no espaço deste abismo que nos afasta.

abril 27, 2009

Para refletir...Palavras de Saramago



Os cérebros estão cheios de palavras que vivem em boa paz
 com as suas contrárias e inimigas.
Por isso as pessoas fazem o contrário do que pensam, 
julgando pensar o que fazem.”